Com o crescente aumento da população brasileira, a urbanização e verticalização das cidades torna-se inevitável. Pensando nisso, o Estatuto da Cidade determinou em 2001 as diretrizes da política urbana na Constituição brasileira. Seu principal instrumento para o desenvolvimento das metrópoles foi a criação do Plano Diretor, que é, de acordo com a lei, "o instrumento básico da política de desenvolvimento e expansão urbana". O planejamento deve ser renovado a cada dez anos e tem como diretriz básica o norteamento das políticas de urbanização de cidades com mais de 20 mil habitantes, integrantes de regiões metropolitanas e aglomerações, em áreas de turismo ou influentes em empreendimentos com significativo impacto ambiental.
A partir de dados estimados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) em 2017, Recife ocupa o nono lugar entre as cidades mais populosas do país com uma população de 1,6 milhões de habitantes, crescendo em quase 100 mil em 7 anos. O crescimento desenfreado causou diversos problemas no patrimônio ambiental e funcionamento urbano da cidade, provocando transtornos na mobilidade urbana, espaços e serviços públicos e áreas de vegetação.
O Plano Diretor do Recife (Lei nº 17.511) criado em 2008 teve como princípios fundamentais a estruturação social da cidade, a função social da propriedade urbana, a sustentabilidade e a gestão democrática. Com muitas promessas que até hoje permanecem apenas no papel e diante de novos problemas a serem abordados, o novo Plano está previsto para dezembro deste ano.
Promessas
Serão debatidos entre cinco grandes temas reunidos pela Prefeitura do Recife para a discussão o uso do solo, as áreas de proteção ambiental, os limites de ocupação, a expansão e preservação da cidade, o saneamento da cidade, a mobilidade e as atividades econômicas do Recife.
Cidade Humana
Com inclusão social, dignidade e acessibilidade, mais espaços públicos, áreas de lazer e moradia.
Cidade sustentável
Com mais áreas verdes, mais limpeza, melhor destino dos resíduos e alternativa energéticas.
Cidade inovadora
Com mais e melhores cadeias produtivas, mais investimento em educação e estímulo ao empreendedorismo.
Cidade preservada
Com respeito ao patrimônio histórico, ao legado da cultura popular e incentivo à recuperação de área subutilizadas, ociosas da cidade.
Cidade integrada
Com melhores opções de transporte, com estímulo as centralidades e a geração de emprego mais perto da moradia.
Como participar
Por meio de participações presenciais em consultas e oficinas nos bairros do Recife ou pelo site oficial do projeto e pelas redes sociais da prefeitura, a população está convocada para elaboração do novo Plano Diretor, que, além da consulta pública, contará com a participação do governo, empresas, universidades e ONGs.
Aflitos, Afogados, Água Fria, Alto do Mandú, Alto Santa Isabel, Areias,
Arruda, Bairro do Recife, Barro, Beberibe, Boa Vista, Bomba do Hemetério,
Bongi, Brasilit, Cabanga, Caçote, Cajueiro, Campina do Barreto, Campo Grande,
Casa Amarela, Casa Forte, Caxangá, Cidade Universitária, Coelhos, Coque,
Coqueiral, Cordeiro, Derby, Dois Irmãos, Encruzilhada, Engenho do Meio,
Espinheiro, Estância, Fundão, Hipódromo, Ilha do Leite, Ilha do Retiro, Joana
Bezerra, Iputinga, Jaqueira, Jardim Petrópolis, Jardim São Paulo, Jiquiá,
Macaxeira, Madalena, Mangabeira, Mangueira, Monsenhor Fabrício,
Monteiro,Mustardinha, Paissandu, Parnamirim, Ponto de Parada, Poço da Panela,
Prado, Roda de Fogo, Rosarinho, Sancho, San Martin,Santana, Santo Amaro, Santo
Antônio, São José, Soledade, Tamarineira, Tejipió, Torre, Torreão, Torrões,
Totó, Várzea e Zumbi.
Jaboatão dos Guararapes
Cavaleiro, Pacheco, Jaboatão Velho (Centro), Sucupira, Socorro, Curados
I, II, III, IV e V.
Olinda
Peixinhos e São Benedito.
Camaragibe
Todo o município será atingido pela suspensão.
Mais informações podem ser obtidas na Central
de Atendimento da Compesa, através do telefone 0800
081 0195.
Recentemente, o conhecido Youtuber Julio
Cocielo, criador do Canal Canalha, fez um post em
sua página no Twitter, onde escreveu que o jogador
francês M’bappé, negro, faria "uns arrastão top" em uma praia. Este tweet foi
feito após a exibição do jogo da França X Argentina, pelas oitavas
de final da recente finda Copa do Mundo da Rússia. Passado este primeiro
problema, grande o suficiente para gerar estardalhaços na internet, em face do cunho racista a que foi relacionado, vários
outros tweets dele, de cerca de cinco anos atrás, foram
desenterrados. Racismo, piadas envolvendo estupro, gordofobia e
inúmeros outros temas, que estão em pauta atualmente, estavam presentes
nos posts antigos feitos por Cocielo. O Youtuber chegou a fazer uma publicação com intuito de se retratar quanto ao tweet envolvendo o françês, afirmando estar se referindo à velocidade do jogador, o que não conseguiu amenizar a situação de Cocielo frente ao público. É redundante dizer que o
problema, que já estava grande, na melhor das hipóteses, dobrou.
Podemos dizer, e isso já não é uma novidade, que a
sociedade brasileira passa por uma bipartição, uma separação ideológica em duas
espécies de times. Iniciando de maneira mais enfática no ano de 2016, a
população se entendendo entre “direita” e “esquerda” briga entre si como se
fosse inimiga mortal de si mesma. Adjetivos como “facistas, machistas,
neonazistas” (dentro de muitos outros) caracterizam o que se entende como
direita no Brasil. “Esquerdopatas, comunistas, ptralhas” são os apelidos dados
aos integrantes do time que se entende como esquerda.
Essa briga é facilmente percebida no dia a dia de
qualquer pessoa que tenha e use com certa regularidade Facebook,
Instagram ou Youtube, por exemplo. Dessa sorte, esbarrar esta reflexão
na mera afirmação disso torna a coluna sem propósito. A ideia, portanto, é que,
ao invés de procedermos no julgamento moral de Cocielo, pensemos no legado
deixado por essa guerra ideológica, quais as escolas que são criadas e são
permeadas na sociedade diante disso tudo.
Não é preciso um intelecto newntoniano para
perceber que todo processo educativo passa, necessariamente,
por erro, aprendizagem e acerto; desse modo, aquele que se submete ao processo
de educação, ao errar, precisa ser ensinado para que passe a mudar sua conduta,
acertando-a. Apesar do paralelo fácil com o processo escolar, nosso
norte nesta coluna é a conduta social; é fácil perceber esse processo educativo
acontecendo de maneira frequente entre nós.
Pensemos, por exemplo, em um estagiário: é comum
que, inexperiente como todo estagiário por natureza é, haja algum erro, por ele
protagonizado, dentro do processo todo do estágio. Havendo, normalmente este
estagiário é advertido e, concomitantemente, ensinado. Este ensino não
necessariamente acontece com o seu superior sentando ao seu lado e,
pacientemente, explicando-o detalhadamente a maneira certa de fazer aquilo em
que houve erro. Uma demissão, inclusive, é uma maneira de ensinar, bem como
este processo de explicação descrito também é; trazer outro estagiário para trabalhar
com aquele que incorreu em erro é mais uma maneira de ensiná-lo.
A quantidade de maneiras de ensinar alguém que
incorre em erro é gigante, tão grande quanto a necessidade de esse ensinamento
acontecer. O grande problema está justamente no fato de que o mais importante
da tríplice que compõe o processo educativo, o ensino, é exatamente o mais
deixado de lado dentro da guerra ideológica tratada neste texto.
Ora, em nome da vitória, os times “direita” e
“esquerda” relativizam o que é erro e o que é acerto, apagando a ponte que os
liga.
Dentro da salada de opiniões que cercou o caso
envolvendo Cocielo, buscou por agulha em palheiro quem tentou ter acesso a
algum conteúdo que não balbuciasse verdades absolutas e inquestionáveis sobre o
caso. O Movimento Brasil Livre, que se autodenomina representante da direita
brasileira, postou um vídeo no Youtube, tratando o rapaz como um
“arregão”, por ter postado, também, posteriormente a todo o problema que
aconteceu, um vídeo se explicando e pedindo desculpas pelas publicações feitas.
O trecho abaixo que, obviamente, não retira as
palavras de tudo aquilo presente no vídeo em íntegra:
“(...) a diferença
nossa com a tua, com o vídeo que cê soltou agora é que
você arregou, cara. Você se deixou subjulgar, você perdeu presses caras
(...)”
No
time adversário, Alexandra Gurgel, criadora do canal Alexandrismos, também
do Youtube, declara em vídeo que são claramente falsas as
desculpas publicadas pelo Cocielo em seu Twitter após a
polêmica ter estourado. Vejamos:
“(...) O próprio
Cocielo, ele fez um post depois pedindo desculpas e dizendo que era zoeira
coisa que zoava com os amigos e que viu que falava coisa errada também. Depois
de vazar todos os tweets ele vai lá e pede uma desculpa no
próprio Twitter, né? Não faz um vídeo, não chama alguém pra
falar, não fala nada. Ele pede essa desculpa esfarrapada que pra mim não serve
pra nada, sabe? (...)”
https://www.youtube.com/watch?v=gRzCeUkyFCU&t=309s
(4:45)
Ora,
o que há aqui senão uma briga entre torcedores fanáticos, balbuciando, de um
lado, que o rapaz deveria manter tudo o que foi publicado, que deveria
enfrentar “os caras” e não abaixar a cabeça para eles; do outro, a
relativização prepotente que chega a deslegitimar as desculpas publicadas
pelo Youtuber?
Tudo
isso exposto retoma a falha no processo educativo da sociedade. A ponte do
ensinamento, seja ele de que maneira for, sofre maus bocados, para não dizer
que está destruída. Os times só dão uma possibilidade: acerto; não importa o
que é falado, o que é publicado, o que se demonstre. A “camisa” que se veste ao
escrever, falar ou publicar é que vai determinar sua vitória incontestável
dentro do time que escolheu, e a derrota profunda, o limbo perante o time
adversário.
Muito
se fala em educação quando a pergunta centra-se no protagonista para a evolução
do país. Ora, onde há espaço para a evolução numa sociedade onde “errar” e
“acertar”, dentro do processo educativo, são conceitos relativizados, em uma
guerra ideológica que põe alguém que publica algo em sua rede social em
penitência profunda e sem fim e, ao mesmo tempo, em um pedestal?
Como
pode evoluir um país em que a sua população, que sofre em uma bipartição tosca
e sem conteúdo, legitima a destruição da única ligação o erro (passado) ao
acerto (futuro)?
As perguntas são pertinentes e postas para motivar reflexões de nossa parte, para nos levar a decidir sobre a construção ou destruição da única ligação entre nós e a evolução, entre nós e o futuro.