KATARINA MORAES
Pernambuco sofreu, entre 2013 e 2015, um surto de sarampo, sendo registrados neste período 1.310 casos da doença. Com isso, ações de bloqueio e vacinação foram realizadas pelo Ministério da Saúde, conseguindo reverter a situação no Brasil, que recebeu, em 2016, o certificado da Organização Pan-Americana da Saúde de que estava livre da circulação do sarampo. Porém, desde o último passado, os casos cresceram exponencialmente na América, região que tinha sido a primeira do mundo a ser declarada como livre da doença.
Em uma última atualização realizada no dia 14 de agosto, o Ministério da Saúde divulgou 910 casos foram confirmados no Amazonas e 296 em Roraima. O alto índice relaciona-se ao número de imigrantes venezuelanos nos estados, país que enfrenta um surto da doença desde 2017. Alguns outros casos isolados foram identificados nos estados de São Paulo (1), Rio de Janeiro (14); Rio Grande do Sul (13); Rondônia (1) e Pará (2).
Até o momento, no Brasil, foram confirmados 6 óbitos por sarampo, sendo 4 óbitos no estado de Roraima (3 em estrangeiros e 1 em brasileiro) e 2 óbitos no estado do Amazonas (brasileiros).
A doença
O sarampo é causado por um vírus da família paramyxorividae, é altamente contagiosa e pode ser transmitida através da fala, tosse e espirro, podendo ser contraída por pessoas de qualquer idade. Em alguns países, a doença é a principal causa de mortalidade infantil.
Vacinação
A vacinação contra o sarampo levou a uma queda de 84% nas mortes pela doença em todo o mundo entre 2000 e 2016, tendo evitado 20,4 milhões de mortes, aproximadamente.
O Dia D (dia de mobilização nacional) contra o Sarampo aconteceu no último sábado (18). Com 170 postos espalhados pela cidade, Recife superou a média nacional conseguindo imunizar 67% do público alvo. A vacinação contra a doença viral tem como público alvo crianças entre um e cinco anos, que devem ser levadas ao posto de vacinação mais próximo para serem imunizadas contra o sarampo e a poliomielite até o dia 31 de agosto, em todo o país, e pretende vacinar 11,2 milhões de crianças.
As crianças devem tomar a primeira dose da vacina, a tríplice viral, aos 12 meses, e a segunda aos 15 meses, com a tetraviral. O Ministério da Saúde disponibiliza, ainda, duas doses do imunizante para todos até 29 anos de idade e uma dose única para aqueles entre 30 e 49 anos. Caso você não tenha recebido alguma delas, basta ir ao posto de saúde mais próximo e atualizar sua caderneta de vacinação.
Postos de saúde em todo o país abrem as portas amanhã (18), sábado, para o chamado Dia D de Mobilização Nacional contra o sarampo e a poliomielite.
Todas as crianças com idade entre um ano e menores de 5 anos devem receber as doses, independentemente de sua situação vacinal. A campanha segue até 31 de agosto.
A meta do governo federal é imunizar 11,2 milhões de crianças e atingir o marco de 95% de cobertura vacinal nessa faixa etária, conforme recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Até a última terça-feira (14), no entanto, 84% das crianças que integram o público-alvo ainda não haviam recebido as doses.
Este ano, a vacinação será feita de forma indiscriminada, o que significa que mesmo as crianças que já estão com esquema vacinal completo devem ser levadas aos postos de saúde para receber mais um reforço.
No caso da pólio, as que não tomaram nenhuma dose ao longo da vida vão receber a vacina injetável e as que já tomaram uma ou mais doses devem receber a oral.
Para o sarampo, todas as crianças com idade entre um ano e menores de 5 anos vão receber uma dose da Tríplice Viral, desde que não tenham sido vacinadas nos últimos 30 dias.
Casos de sarampo
Atualmente, o país enfrenta dois surtos de sarampo - em Roraima e no Amazonas. Até a última terça-feira (14), foram confirmados 910 casos no Amazonas, onde 5.630 outros casos permanecem em investigação. Já em Roraima, são 296 casos confirmados e 101 em investigação.
Há ainda, de acordo com o Ministério da Saúde, casos isolados e relacionados à importação nos seguintes estados: São Paulo (1), Rio de Janeiro (14), Rio Grande do Sul (13), Rondônia (1) e Pará (2).
Até o momento, foram confirmadas no Brasil seis mortes por sarampo, sendo quatro em Roraima (três em estrangeiros e um em brasileiro) e dois no Amazonas (brasileiros).
O vereador Romerinho Jatobá (PROS) apresentou, no dia 1º de agosto, um requerimento à Mesa Diretora da Câmara do Recife, solicitando ao prefeito Geraldo Júlio (PSB) a “proibição da contratação do cantor Johnny Hooker em qualquer evento incentivado ou patrocinado pela Prefeitura do Recife”.
A votação estava prevista para a última segunda-feira (8), mas o vereador Ivan Moraes (PSOL), contrário à proposta, solicitou o adiamento da votação, via requerimento, por um prazo de 5 dias. Dessa forma, a discussão deverá voltar ao plenário da Casa na sessão desta segunda-feira (13). Nos bastidores, sabe-se que há grandes chances de o projeto do vereador Romerinho Jatobá ser aprovado pela maioria dos parlamentares.
As ações são efeitos das sucessivas polêmicas em torno da apresentação da peça “O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu” no Festival de Inverno de Garanhuns (FIG) no último mês de julho. Diversos artistas, como a cantora Daniela Mercury, subiram ao palco repudiando o que chamam de “censura” diante de batalhas judiciais que culminaram na proibição da exibição da peça e das declarações do prefeito Izaías Régis (PTB) contrárias à apresentação teatral na cidade.
No ato teatral, a atriz, transexual, Renata Carvalho, interpretaria Jesus Cristo. A peça, mesmo com proibição judicial, foi exibida mesmo sem estrutura do Festival de Inverno, com lanternas e auxílio de ativistas e populares, apoiadores da exibição.
Uma outra manifestação foi a do cantor Johnny Hooker que, no palco principal do FIG, afirmou: “Jesus é transsexual sim, Jesus é bicha sim, p*!”, além de ter puxado o coro “ih, ih, ih, Jesus é travesti”.
CONFIRA A ÍNTEGRA DO REQUERIMENTO APRESENTADO PELO VEREADOR ROMERINHO JATOBÁ:
Requeremos à Mesa Diretora, nos termos do art. 264, VI, do Regimento Interno, cumpridas as formalidades legais e ouvido o Plenário desta Casa Legislativa, que seja feita Indicação ao Excelentíssimo Senhor Geraldo Julio de Melo Filho, prefeito da cidade do Recife, para providenciar que não seja feita a contratação do cantor Johnny Hooker, em nenhum evento incentivado ou patrocinado pela Prefeitura da Cidade do Recife.
JUSTIFICATIVA
Devido ao fato ocorrido no último sábado (28/07/2018), no festival de inverno de Garanhuns, envolvendo o cantor Johnny Hooker, onde o artista afirma que Jesus Cristo seria homossexual, além de expressar frases agredindo a população pernambucana desrespeitando as pessoas e religiões.
O cantor Johnny Hooker puxou o coro “Hiii,Hiii,Hiii,Jesus é travesti, para em seguida, afirmar: “Eu estou aqui hoje para dizer que Jesus é travesti, sim! Jesus é transexual, sim! Jesus é bicha sim!
Conforme o artigo 20 da Lei Federal nº 7.716, que alega que quem "pratica, induz ou incita a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional" está sujeito a uma pena de reclusão de um a três anos e multa.
Sendo assim, tratando de um cantor que não respeita o público, nem a cidade, peço que não seja feita a contratação do mesmo, em nenhum evento incentivado ou patrocinado pela Prefeitura da Cidade do Recife.
Solicitamos, pelo exposto, o apoio dos nobres pares, aprovando este Pleito.
Sala das Sessões da Câmara Municipal do Recife, 01 de agosto de 2018.
ROMERINHO JATOBÁ
Vereador da Cidade do Recife - PROS
YURI MENDES
Foi indiciado, no último dia 31 de julho, Luis Felipe Manvailer, acusado de feminicídio contra a advogada Tatiane Spitzner. O indiciamento da Polícia Civil aponta o delito como qualificado por ter o acusado utilizado meio cruel (que impossibilitou a defesa da vítima), pelo motivo torpe e pela condição do sexo feminino por parte da vítima. Imagens das câmeras de segurança do prédio foram divulgadas à imprensa e demonstram que a trajetória do casal em direção ao apartamento já vinha acompanhada de fortes agressões contra Tatiane, que tentou se defender e fugir dos ataques como pôde. ATENÇÃO! AS IMAGENS SÃO FORTES:
O caso fala muito mais do que o vídeo quer demonstrar. A maneira como os acontecimentos se desenvolveram revela com clareza algumas das mazelas sofridas por nossa sociedade. Vejamos inicialmente a atitude, ou a falta dela, dos moradores e funcionários do prédio. Tatiana sofreu agressões desde o carro. Se desgarrou do marido e chegou, inclusive, a correr dentro do estacionamento. Já no elevador, foi severamente espancada por Luis. O indiciamento feito pela Polícia Civil suspeita fortemente que as agressões continuaram dentro do apartamento do casal.
A ausência de atitude por parte dos moradores e funcionários do prédio parece ter o mesmo fundo de quem ainda consegue considerar as motivações do indiciado ao cometer o crime: a ideia de poder por parte do homem. A sensação de domínio, ou melhor, a vontade de mostrar e exercer o poder é cultural e antiga no masculino. É o que hoje se chama "Machismo Institucional".
Essa cultura está arraigada na sociedade há muito tempo, porém, atualmente, tem sido revelada, mostrada com mais clareza. O auxílio da imprensa no noticiamento profundo de crimes como este e a popularização deste conhecimento nas redes sociais, por exemplo, ajudam a tornar cada vez mais amplo o entendimento do que é o Machismo Institucional.
O ponto crucial que deve ser entendido de tudo isso é que os crimes cometidos contra as mulheres, por parte dos homens, são, muitas vezes, frutos de uma mentalidade que não aceita a mulher numa posição de independência em relação ao homem. Interessante é pensar, por exemplo, que esta é uma cultura tão fortemente presa à sociedade em geral que o meio de punição aos homens, autores desses tipos crimes, que mais se vê ser solicitado é a castração química. Tornar o órgão genital do homem inútil sexualmente, eliminando qualquer possibilidade de prazer sexual por sua parte.
Esse tipo de punição somente entrega que consideramos que o respeito do homem, toda sua virilidade e masculinidade está presa ao seu órgão sexual. Ou seja, contribuímos para que a verdadeira masculinidade seja constantemente posta de lado e reforçamos, nas entrelinhas, que consideramos que, sem a sua sexualidade, o homem deixa para trás suas más atitudes.
No entanto, como já foi dito e reforça-se, o fundo desses crimes tem ligação muito maior com a ideia de poder do que com qualquer outra coisa. A noção errada do que é virilidade e masculinidade apenas polui as atitudes masculinas, tornando especialmente frágil o ego do homem para qualquer atitude feminina que o contrarie e mostre minimamente sua independência.
O enrijecimento das leis, o reforço policial e o esforço em punir só age nos sintomas do problema. O máximo que se consegue é estancar os sintomas, porém em nada é atacada a causa do problema. Atacá-la vai muito além. Trata-se de conscientização e de educação que toque de maneira profunda nesse tema. Todos esperamos, é claro, nada menos que a justiça e que, em caso de decisão que torne Luis culpado, ele seja devidamente preso e cumpra as penas do crime que cometeu.
Para o bem de tantas outras vítimas, como Tatiane, esperamos que o Machismo Institucional seja levado a sério e devidamente enfrentado, não apenas os seus sintomas, mas toda a sua causa.
Especialistas e profissionais que atuam na rede de proteção dos direitos das mulheres comemoraram a criminalização de abusos sexuais e atos libidinosos cometidos em locais e transportes públicos, além da divulgação de cenas de estupro.
Há dois dias, o projeto de lei que torna crime tais condutas foi aprovado no Senado e aguarda sanção presidencial.
Com a aprovação do projeto que altera a legislação penal brasileira para ampliar o rol de atos considerados crimes cometidos contra a dignidade sexual, a expectativa de operadores jurídicos e de organizações da sociedade civil é de que as penas previstas possam ter um efeito de inibição das práticas criminosas e punição mais adequada dos agressores.
“É algo que vem fortalecer nossas ações. [O projeto] ampliou a identificação de crimes que antes era constrangedor mencionar, porque não havia registro no Código Penal. Temos agora como redefinir critérios de denúncia, de fiscalização e, consequentemente, de atuação, tanto das políticas públicas, quanto da sociedade”, avaliou Regina Célia Barbosa, fundadora e vice-presidente do Instituto Maria da Penha (IMP).
Para Regina Barbosa, a criminalização de atos de depravação e lascívia contra mulher é fruto do amadurecimento da Lei Maria da Penha, que completou ontem 12 anos. “A Lei Maria da Penha revelou tanta coisa que estava escondida, que era abafada nas relações. Tudo isso que acontece hoje não é novidade, mas a lei passa a revelar essa situação.”
Lacunas preenchidas
A promotora de Justiça e coordenadora do Grupo de Atuação Especial de Enfrentamento à Violência Doméstica (Gevid) do Ministério Público Estadual de São Paulo, Sílvia Chakian, destacou a definição do tipo penal médio da importunação sexual para adequar a conduta dos molestadores, que antes ou eram enquadrados na contravenção mínima prevista para importunação ofensiva ao puder ou no crime hediondo do estupro.
“A gente segue um modelo das legislações penais internacionais que contemplam esse tipo penal intermediário e dá resposta a uma sensação muito ruim que a sociedade manifestava, de ineficiência do direito penal, de proteção ineficiente por parte do Estado. Então, a criação desse tipo penal era urgente”, analisou Sílvia Chakian.
Para a promotora, a dificuldade de punir comportamentos libidinosos praticados em público com a gravidade devida foi escancarada no caso emblemático do homem que ejaculou em uma mulher dentro de um ônibus em São Paulo, no ano passado.
Sílvia Chakian também ressaltou a importância da criminalização da “vingança pornográfica” – quando imagens íntimas são divulgadas por ex-companheiros com o objetivo de vingar ou humilhar a mulher pelo fim da relação. Pelo projeto, é crime a divulgação de cenas de estupro, sexo ou pornografia.
“Trabalho numa vara de violência doméstica, eu me deparo muito com casos onde há o rompimento da relação, e o sujeito em poder de imagens, vídeos de conteúdo intimo da ex-companheira acaba divulgando como forma de vingança, humilhação, danos à imagem da mulher”, relatou a promotora.
Para ela, outro aspecto importante do projeto é a definição de agravamento das penas previstas para casos de estupro coletivo, quando é cometido por vários agressores, e do chamado estupro corretivo, que geralmente é cometido por motivação homofóbica.
“É o estupro, por exemplo, das mulheres lésbicas, uma dupla violência. É muito interessante que o legislador tenha respondido a altura da gravidade desses crimes.”
Cultura do estupro x cultura do respeito
A professora universitária Regina Célia Barbosa espera que a punição adequada e a adoção de uma política de conscientização da sociedade contribuam para evitar o agravamento da violência contra a mulher e casos de feminicídio.
“No momento em que realmente a mulher começa a ter consciência de que aquela forma de carinho não é carinho, aquela forma de carícia não é carícia, mas é malícia, e se torna agora uma importunação sexual e no momento em que eu recuso, posso sim vir a ser uma próxima vítima do feminicídio. Então, se consigo identificar isso antes e tem uma lei que ampare, a possibilidade aí é de inibir.”
Regina Barbosa acrescentou que a inovação da lei é fundamental para que o país não trate mais dessas questões de forma moralista, mas com respeito aos direitos das mulheres.
“Esse aspecto jurídico fortalece as nossas lutas no que se refere à ideia e ao valor do reconhecimento da nossa condição feminina enquanto cidadã. O que precisamos ainda continuar lutando, enfrentando, combatendo é a mentalidade machista”, disse a professora.
Para a promotora Sílvia Chakian, a legislação penal é parte dessa transformação da cultura, mas sem a mudança de consciência da sociedade, a lei sozinha não tem poder para interromper todo o ciclo de violência que cometido contra a mulher.
“As mulheres ainda hoje são mortas, são estupradas, não são resguardadas em seus direitos humanos mais básicos. O direito penal deve estar atento à realidade, mas também é preciso a adoção de novas posturas.”
Sílvia Chakian destacou que não adianta, por exemplo, uma lei que estabelece que matar mulher por circunstância de gênero é feminicídio. Ela ressaltou que se uma mulher gritar por socorro na presença de câmeras e vizinhos, como ocorreu recentemente com a advogada morta supostamente pelo marido no Paraná, é preciso interferir.
“Se a sociedade ainda hoje não interfere, é sinal de que essa sociedade acredita que a questão da violência contra a mulher é normal ou uma questão familiar, não é uma questão de Estado e de responsabilidade nossa, da sociedade." Informações da Agência Brasil
KATARINA MORAES
Raynéia Gabrielle Lima, 30 anos, foi assassinada no último dia 23 na cidade de Manágua, na Nicarágua. Um tiro no peito cessou a vida da estudante pernambucana de medicina em razão à uma crise sociopolítica do país mais pobre da América Central, segundo ranking da Revista Forbes.
A estudante foi morta pelo ex-militar Pierson Gutierrez Solis, que de acordo com o jornal local La Prensa, disse ter considerado a atitude da jovem suspeita e que se sentiu ameaçado, o que culminou em seu assassinato enquanto dirigia de volta para casa após a residência médica. Em Pernambuco, Raynéia foi sepultada pela família que não a via há quatro anos, vestida com o jaleco e com o diploma honorário da Universidade Americana em Manágua (UAM), onde cursava o sexto e último ano.

Raynéia Gabrielle. Foto: Reprodução/Facebook
O caso tornou-se conhecido em todo o estado - que dirá, país -, mas Raynéia não foi, e nem será, a única vítima do governo Ortega. Em tentativas de calar os críticos, já foram mortas - de acordo com testemunhas e grupos de direitos humanos - mais de 300 pessoas em eventos distintos - inclusive crianças e adolescentes.
A morte da estudante pode impedir que a comunidade brasileira continuasse de olhos fechados. Entretanto, para que haja uma real conscientização, é necessário entender a atual situação da Nicarágua, que teve início há mais de 40 anos.
Governo Ortega-Murillo

O presidente Daniel Ortega e sua esposa, a Vice Rosário Murillo. Foto: Randall Campos/Reuters
Ex-guerrilheiro de 72 anos, Daniel Ortega, é o grande responsabilizado pela atual situação da Nicarágua. Ele integrou a Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN) em 1962, que ajudou a pôr fim em 1979 na ditadura instaurada no país desde 1936, encerrando a dinastia dos Somoza, que governou o país durante 43 anos.
Ortega foi acusado de terrorismo e preso durante sete anos no governo de Anastasio Somoza Debayle pelas suas manifestações.
Seus opositores, alguns ex-guerrilheiros que lutaram ao seu lado, acusam-no de assemelhar-se ao antigo ditador Anastásio Somoza, a quem combateu, além de autoritarismo e da perpetuação da família no poder. O nicaraguense mudou a Constituição a fim de eliminar o limite de mandatos. Sua mulher, Rosário Murillo, é a atual vice-presidente.
A Nicarágua é uma república presidencialista onde o Presidente e o Vice-Presidente são eleitos por voto popular para um mandato de cinco anos. Assim, o presidente foi eleito pela primeira vez em 1984 com o apoio de cerca de 70% dos eleitores. Mas pelo fraco crescimento econômico e a desilusão política, Ortega perdeu a presidência em 1990 para uma antiga companheira de guerrilha, Violeta Barrios de Chamorro.
Ortega tentou se eleger nos próximos anos, porém só conseguiu voltar ao poder em 2006, com 38% dos votos, e foi reeleito em 2011, permanecendo no poder até hoje. A economia nicaraguense cresceu acima da média regional e, segundo o Banco Mundial, a pobreza teve uma redução de 13% durante seus anos de governo.
Essa é a causa, segundo analistas, pelas quais Ortega tem sido poupado de críticas como as direcionadas à Venezuela e a Cuba.
Atualmente, Ortega mora na antiga casa de Somoza e montou um sistema de segurança que proíbe a livre circulação pelo bairro onde mora e a instauração de toque de recolher e policiamento nas redondezas.
Previdência

Onda de protestos assolam o país da América Central. Foto: Reprodução
O estopim para as ondas de protestos no país foi a aprovação de uma reforma previdenciária do Instituto Nicaraguense de Seguridade Social em Abril, que previa um imposto de 5% sobre as aposentadorias.
Os manifestantes pedem o fim do mandato Ortega-Murillo, que alegou não estar disposto a renunciar ou convocar eleições antecipadas. Eles relatam que as forças de segurança têm empregado força excessiva, usando munição contra pessoas desarmadas.
21 países do continente se desvincularam da Nicarágua e os Estados Unidos recentemente exigiu a saída do presidente, opção apoiada por 79% dos nicaraguenses conforme a pesquisa da ONG Ética y Transparencia.
Recomendações
Em nota oficial, o Itamaraty alerta sobre o cenário da Nicarágua e aconselha que os brasileiros não façam viagens ao país. Porém, se a viagem for inevitável, a Embaixada do Brasil em Manágua adverte:
- Evite tomar parte de concentrações de caráter político;
- Caso se veja em meio a uma manifestação, mantenha a calma, distancie-se dos manifestantes e evite aproximar-se de grupos não identificados;
- Evite deslocamentos não necessários. Caso seja necessário efetuar um deslocamento, dê preferência a fazê-lo acompanhado e em vias policiadas;
- Manter em dia e válido o passaporte para a eventualidade de uma saída emergencial do país;
- Leve sempre consigo uma cópia de seu passaporte ou de um documento de identificação Válido. Mantenha uma cópia também em seu correio eletrônico;
- Avise a pessoas próximas (familiares e amigos) sua localização e meios de comunicação;
- Evite viajar para o interior do país e o deslocamento por estradas para fora da capital, que têm sofrido bloqueios por criminosos armados.
A Embaixada do Brasil em Manágua está atenta ao desenvolvimento dessa situação, com o objetivo de fornecer assistência e proteção consular aos cidadãos brasileiros. Em caso de emergência, favor comunicar-se ao número telefônico de plantão ou pelo correio eletrônico: consular@ibw.com.ni Plantão consular Embaixada do Brasil em Manágua: (+505) 88830915.
Um estudo recém-concluído mostra que as mulheres negras são o principal alvo de comentários depreciativos nas redes sociais. Os dados estão na tese de doutorado defendida na Universidade de Southampton, na Inglaterra, pelo pesquisador brasileiro e PHD em Sociologia Luiz Valério Trindade. Ele analisou mais de 109 páginas de Facebook e 16 mil perfis de usuários.
O levantamento também incluiu 224 artigos jornalísticos que abordaram dezenas de casos de racismo nas redes sociais brasileiras entre 2012 e 2016. Luiz Valério constatou que 65% dos usuários que disseminam intolerância racial são homens na faixa de 20 e 25 anos. Já 81% das vítimas de discurso depreciativo nas redes sociais são mulheres negras entre 20 e 35 anos.
De acordo com Luiz Valério, as mulheres negras causam muito incômodo em um modelo de construção social machista e racista. As principais vítimas de agressões nas redes são médicas, jornalistas, advogadas e engenheiras negras.
“A partir do momento em que essas mulheres negras ascendem socialmente, adquirem maior escolaridade, elas se engajam em profissões de maior visibilidade e maior qualificação. Isso entra em choque com aquele modelo que diz que a mulher negra tem que estar associada ou engajada em atividades subservientes e de baixa qualificação”, afirmou o pesquisador.
Luiz Valério chama a atenção para a importância do Poder Público e das empresas que administram as redes sociais de combater a violência contra as mulheres negras na internet. O pesquisador, que é negro, defende o aprimoramento das políticas de privacidade das redes sociais, com mais punição para usuários que disseminam discurso de ódio.
“As atitudes que as pessoas têm no mundo virtual elas têm, sim, que responder civilmente por suas atitudes. Elas não estão protegidas por trás da tela do computador da forma como elas imaginam. As escolas de ensino médio e fundamental precisam preparar os jovens para que, na sua vida adulta, não repliquem esse tipo de comportamento”,
A agressão pelas redes têm o potencial de se transformar em violência verbal e física fora do mundo virtual. A blogueira maranhense Charô Nunes já vivenciou essa situação e hoje, radicada em São Paulo, coordena o Blogueiras Negras, plataforma colaborativa de publicação de textos de mulheres negras de todo o país. Com informações da Agência Brasil
Amamentar até que idade? Quando começar a dar alimentos? Que alimentos posso oferecer ao bebê? Essas são algumas das inúmeras dúvidas que surgem com a chegada de um novo integrante na família. Para ajudar pais e responsáveis, foi criado, em 2002, o Guia Alimentar para Crianças Menores de Dois anos. Neste ano, o documento será atualizado. O material está em consulta pública até 25 de agosto.
De acordo com o Ministério da Saúde, os dois primeiros anos de vida são decisivos para o crescimento e o desenvolvimento adequado da criança e também para a formação de hábitos e para garantir saúde durante toda a vida. “A alimentação tem papel fundamental em todo esse processo”, ressaltou a pasta.
A nova edição do documento está alinhada com o Guia Alimentar para a População Brasileira e traz recomendações sobre a alimentação das crianças nos dois primeiros anos de vida, para promover saúde, crescimento e desenvolvimento. “O guia pretende ser um apoio à família no cuidado cotidiano à criança, tanto nos momentos de dúvida, durante o aleitamento materno, como no enfrentamento aos desafios cotidianos, no estímulo à prática da cozinha e do comer juntos”.
A atualização deve subsidiar ações de educação alimentar e nutricional em âmbito individual e coletivo no Sistema Único de Saúde (SUS) e em outros setores. “É essa a perspectiva, apresentar as informações necessárias para incentivar, apoiar, proteger e promover a saúde e a segurança alimentar e nutricional da população menor de 2 anos de idade”, disse o ministério.A Campanha Nacional de Vacinação contra a Poliomielite e o Sarampo começa nesta segunda-feira (6) em todo o país. A meta é imunizar mais de 11 milhões de crianças com idade entre 1 ano e menores de 5 anos, público mais suscetível a complicações de ambas as doenças. O Dia D de Mobilização Nacional foi agendado para 18 de agosto, um sábado, mas a campanha segue até o dia 31 de agosto.
De acordo com o Ministério da Saúde, foram adquiridas 28,3 milhões de doses de ambas as vacinas – um total de R$ 160,7 milhões. Todos os estados, segundo a pasta, já estão abastecidos com 871,3 mil doses da Vacina Inativadas Poliomielite (VIP), 14 milhões da Vacina Oral Poliomielite (VOP) e 13,4 milhões da Tríplice Viral, que protege contra o sarampo, a rubéola e a caxumba.
Este ano, a vacinação será feita de forma indiscriminada, ou seja, todas as crianças dentro da faixa etária estabelecida serão imunizadas – mesmo as que já estão com o esquema vacinal completo. Neste caso, a criança vai receber um outro reforço. A campanha ocorre em meio a pelo menos dois surtos de sarampo no Brasil, em Roraima e no Amazonas. No caso da pólio, 312 municípios registram baixas taxas de cobertura vacinal contra a doença.
Veja a seguir algumas das principais perguntas e respostas relacionadas à campanha, com base em informações divulgadas pelo Ministério da Saúde:
Quando e onde ocorre a campanha?
Entre 6 e 31 de agosto, com o Dia D agendado para 18 de agosto, em postos de saúde de todo o país.
Qual o foco da campanha?
Crianças com idade entre 1 ano e 5 anos incompletos (4 anos e 11 meses).
Crianças que já foram vacinadas anteriormente devem ser levadas aos postos?
Sim. Todas as crianças com idade entre 1 ano e menores de 5 anos devem comparecer aos postos. Quem estiver com o esquema vacinal incompleto receberá as doses necessárias para atualização e quem estiver com o esquema vacinal completo receberá outro reforço.
Qual a vacina usada contra a pólio?
Crianças que nunca foram imunizadas contra a pólio vão receber a Vacina Inativada Poliomielite (VIP), na forma injetável. Crianças que já receberam uma ou mais doses contra a pólio vão receber a Vacina Oral Poliomielite (VOP), na forma de gotinha.
Qual a vacina usada contra o sarampo?
A vacina contra o sarampo usada na campanha é a Tríplice Viral, que protege também contra a rubéola e a caxumba. Todas as crianças na faixa etária estabelecida vão receber uma dose da Tríplice Viral, independentemente de sua situação vacinal, desde que não tenham sido vacinadas nos últimos 30 dias.
Adultos participam da campanha?
Não. A campanha tem como foco crianças com idade entre 1 ano e menores de 5 anos.
Mesmo não sendo foco da campanha, adultos precisam de alguma das duas doses?
Sim. Conforme previsto no Calendário Nacional de Vacinação, adultos com até 29 anos que não tiverem completado o esquema na infância devem receber duas doses da Tríplice Viral e adultos com idade entre 30 e 49 anos devem receber uma dose da Tríplice Viral. O adulto que não souber sua situação vacinal deve procurar o posto de saúde mais próximo para tomar as doses previstas para sua faixa etária. Com informações da Agência Brasil
YURI MENDES
Ocorreu na última sexta-feira (28) a apresentação do cantor Johnny Hooker no Festival de Inverno de Garanhuns, o Fig. Dotado de um tom político, o show foi marcado por um momento em especial onde Johnny diz que “Jesus é travesti, sim!”, dentre outras falas neste mesmo momento e teor. Confira:
Como mostra o vídeo, o público que acompanhava a apresentação demonstrou-se dividido entre os que vaiaram as declarações do cantor e aqueles que o apoiaram. Neste sentido, a ideia buscada neste texto é pensar sobre os reflexos dessa fala e da maneira como foi expressa.
Johnny, através do que declarou e de como declarou, acabou por incendiar ainda mais a discussão em volta do caso envolvendo a Renata Carvalho, travesti que interpretou Jesus na peça “O Evangelho”, também apresentada no Fig. O que tem sido posto em pauta é o teor sagrado da religião e como esse sagrado se relaciona com a comunidade LGBT, historicamente refém dos mais diversos preconceitos, muitos deles intimamente ligados ao teor pecaminoso que tem, dentro da religião Católica e Protestante, a homossexualidade.
De acordo com o IBGE, em censo realizado no ano de 2010, o Brasil tem 86,8% de sua população como sendo cristã (somadas as porcentagens de Católicos e Protestantes). Desse modo, independentemente da bandeira que se busque levantar ou da pauta que se pretenda trazer, é necessário que se pense em uma estratégia de como levar isso a uma população majoritariamente cristã.
Inúmeros fãs se manifestaram em defesa do cantor, interpretando sua fala no sentido de que ele quis dizer que Jesus não teve restrições ou preconceitos e que assim deveria ser a conduta daqueles que o seguem. No entanto, ao gritar a “verdade”, Johnny apenas trouxe surdez aos que precisam ouvi-lo. Ora, quem precisa ouvir o que cantor tem para falar não é o seu público alvo. As pessoas que o aplaudiram de pé, que ficaram impactadas com a força das suas palavras não são (ou não deveriam ser) os destinatários da mensagem.
Como esperar uma reação positiva se a atitude tomada é “gritar” verdades, consideradas absolutas por quem fala, na “cara de alguém” que tem pensamentos radicalmente opostos? No exato momento em que se escolhe esta alternativa para passar a mensagem pretendida, dois são os reflexos: surdez e invisibilidade. Ao trazer ideias tão profundamente avessas à crença de mais de 85% da população, da maneira como foi trazida pelo cantor, é inevitável que tudo isso provoque aversão em quem escuta, transformando-os em “surdos” para o que foi “gritado”.
Muito pior que isso, porém, é a invisibilidade trazida por esse tipo de acontecimento. O movimento LGBT, os artistas que o representam e as pessoas que o compõem são colocados todos no mesmo grupo, todos têm suas vozes retiradas, todos são reduzidos aos “que só fazem ofender a fé dos outros”. Toda a profundidade e importância do movimento e de suas pautas são esquecidas, são ofuscadas pelos gritos e pelas frases de efeito.
A verdade precisa ser trazida. Uma vez imposta, deixa de ser verdade. Torna-se ruído.